quarta-feira, novembro 09, 2005

 

Após publicado em Diário Oficial eu finalmente posso falar...


Desde pequena eu convivo de forma muito direta com a política, desde de pequena eu nego a política. Existem milhões de respostas psicanalíticas, de uns tantos caras por aí, dissertando sobre as razões disso, mas razões a parte acho que posso dizer que tive uma overdose.

Meus pais pertenciam a um movimento político de esquerda e me levavam sempre com eles a comícios, passeatas, pichações, reuniões. Cada redação da escola que eu tinha uma dúvida vinha acompanha de uma explicação envolvendo a questão humanista filosófica política de qualquer que fosse o tema. Estudei em uma escola com vários filhos de políticos, brinquei com os filhos de tantos outros. Para chegar no ápice, por conta própria fui do grêmio, fiz passeata contra o Collor, contra o Bush (depois de 11 de setembro) e trabalhei na Caros Amigos.

Quando fiz esse blog jurei pra mim mesma que não iria tratar de política, resisti bravamente, sem dar uma palavra sobre a questão do desarmamento. Resisti até hoje, quando um ato político de merda destruiu meu dia (e provavelmente todos os próximos dias também).

Meus bisavós vieram da Itália pra fugirem da Segunda Guerra e serem explorados, a família da minha mãe no campo a do meu pai nas docas. Minha avó materna conta que desde muito pequena trabalhava na lavoura e que quando ficava menstruada tinha até febre da mistura calor, bichos, esforço físico, sangue e saco de estopa no meio das pernas (não havia Sempre Livre ainda, muito menos o absorvente informativo do outro dia). Não sei exatamente como ela foi parar na cidade e se casou com o meu avô, mas as coisas não melhoraram muito. Ele pedreiro, ela operária de fábrica que lavava roupa pra fora pra aumentar a renda da família. Ela ficou 1 ano sem colocar dentadura porque perdeu todos os dentes e não tinha dinheiro, era a dentadura ou dar de comer para os filhos.

Desde os 5 anos minha mãe ajudava na casa e não era ajudar fazendo coisinhas, ela fazia o almoço de 6 (sendo 4 homens), arrumava a cozinha e limpava os banheiros, todo santo dia. Sem nunca perder aula, deixar de fazer lição ou deixar de brincar.

A família do meu pai tinha condições melhores, mas ainda assim a vida era muito dura. Meu avô era doqueiro (e vez ou outra montava umas rinhas de galo, pra meu total desespero só de pensar nisso) e minha avó dona de casa. O pai dela tinha 3 esposas e mais uma renca de amantes, no enterro do velho deveriam ter uns 50 filhos. Passaram uns bons 15 anos construindo a casa deles pedaço a pedaço, uma parte de cada vez.

Com toda essa fortuna familiar meus pais - que casaram muito cedo (mesmo) - não tinham como pedir dinheiro pra família para encaminhar a vida. Meus avós ajudaram muito, mas ainda assim minha mãe economizava até palitos de fósforo quando meu pai passou 1 ano desempregado com ela ainda no cursinho. E eu não exagerei quanto ao palito de fósforo, ela tinha duas caixas de fósforo ao lado do fogão, uma com os novos e outra com os usados, assim se uma boca já estivesse acessa não era preciso gastar um novo para acender a outra.

Mesmo casada, sem dinheiro e com uma filha pequena minha mãe terminou o colegial, fez cursinho, faculdade (pública), mestrado, pós graduação, escreveu 3 livros, participou de 2 dos maiores congressos mundiais de infectologia (apresentando trabalhos, não como mera espectadora). Meu, minha mãe é o máximo! Quando eu crescer quero ser baixinha igual a ela.
Essa lenga, lenga toda foi só pra todo mundo conseguir entender o quanto minha família trabalhou pra chegar onde está (e estamos longe dos milhões sem razão da Bünchen ou da senhorita Spears). Eles lutaram muito pra me dar o meu bercinho de bronze (não é de ouro, mas é bercinho) e sempre levarei a luta deles comigo como exemplo. Uma luta incomensurável, mas que não foi o mais importante que fizeram por mim, pois a maior grandeza que me deram foi o amor, o carinho e a educação (em todos os sentidos que essa palavra pode ter). Admiro e me orgulho muito de minha família por isso.

Retomando o Rosário: infelizmente mesmo diante de tudo isso e de outras tantas histórias, de outras tantas famílias, o meritíssimo Senhor Governador resolveu tirar o HC da Unicamp da administração da Universidade e colocar sob o cunho da Secretaria de Saúde do Estado. O que acarreta na demissão de todos os funcionários concursados e recontratação por 25% do salário (não é com redução de 25% é pelo valor de 25 % do seu salário atual)!!!!!!!!!!!!!!!!!

Com quase 20 anos de formada, dos quais a maioria ela estava no HC, sendo a profissional fabulosa que é, depois de lutar uma vida toda, mommy receberá mensalmente um salário bruto menor que o meu salário líquido. Isso não é lindo? Depois querem que a porra da saúde desse país vá para a frente.

Tenho milhares de críticas a tecer ao esquema antigo, engessado, inchado, inflexível. Cheio de funcionários carrancudos, incompetentes e com má vontade. Mas também cheio de pessoas como a minha mãe, que trabalham cerca de 11 horas por dia sem ganhar hora extra, que dão o sangue e que não migraram para o sistema privado por acreditar que o povo tem direito a receber saúde de qualidade e de graça. Ela tinha fé no sistema.

Alguém consegue conceber o absurdo dessa situação? Ou melhor, todos os absurdos dessa situação? Redução salarial tira dinheiro de circulação e prejudica a lei máxima do capitalismo (sistema que gostemos ou não é o que vivemos). Funcionários fazendo a mesma coisa, por mais horas (a jornada de trabalho vai aumentar) por um salário menor. Tenho confiança que eles serão funcionários felizes, produtivos e eficazes! Cerca de 2 mil pessoas colocadas no olho da rua, das quais boa parte não será readmitida por terem que prestar concurso para poderem ser contratadas pela Secretaria de Saúde (você acha mesmo que um especialista na área que atua há mais de anos com a mesma coisa todo dia seria capaz de passar em um concurso público normal?!?! Ou pra poder absorver todo esse povo todo o concurso seria levemente fraudado?). E mais 200 milhões de outras conseqüências em todos os âmbitos que pudermos pensar...

Ai você pergunta: e o sindicato? Deve ter levado un$ por fora. E greve? Para todos serem demitidos por justa causa... E os demais funcionários da Universidade? Contaram uma mentirinha populista de que eles teriam aumento de salário nos próximos anos com a redução de 20% do orçamento. E processo? Beleza, rola, mas o dinheiro só sai daqui muito tempo, até lá alguns tantos já estarão até mortos.

O que mais me indigna é que não estamos falando de nada privado e sim do governo. Como pode um governo que não mede as conseqüências dos seus atos e todo o seu impacto econômico e político em toda a sociedade que ele tem que administrar e representar? ISSO É ULTRAJANTE!

E no meio de tudo isso eu ainda me culpo, me achando mesquinha, uma vez que a maioria da população brasileira vive com menos do que minha mãe virá a ganhar. Uma vez que a maioria das pessoas no mundo vivem abaixo da linha da miséria, quando a Africa definha na frente do planeta e ninguém faz nada. Quando destruímos a natureza e uns aos outros com o dito progresso e nossas guerras armadas e frias.

O mundo não deveria ser assim. Sr Smith criou a capitalismo como algo que baseado na propriedade que traria prosperidade a todos e não que criaria uma sociedade de castas pós-moderna. Camarada Marx e camarada Lenin não viam o socialismo como alquilo que existiu na Rússia e ainda existe em Cuba e na China. Quem quer que seja o teorizador do anarquismo pensou em algo que se sustenta sozinho com equilíbrio. O problema de todos e de qualquer sistema econômico e político é o ser humano.

Desde que o primeiro macaco mentecapto lá na era sei-lá-o-que-zóica inventou de ter polegar opositor e tele-encéfalo super desenvolvido a espécie humana só fez piorar. Desde o primeiro líder de tribo africana e o primeiro Imperador Chinês, passando por Cleópatra, Nero, César, Csares, Napoleão, Hitler, George W Bush nós ficamos cada vez mais egoístas, mais destrutivos, mais corrompíveis e tudo isso em muito maior escala. É simplesmente vergonhoso.

E no meio disso tudo, sem contar com a ajuda Dele, acabamos caindo na graça do outro e é impossível não lembrar do Al Pacino dizendo para o seu filho no final de Advogado do Diabo: não dá pra não admitir que o século 20 foi inteiro meu. Nessas horas minha fé cristã, pagã e na humanidade se esvai pelos vãos dos dedos e eu não tenho certeza de que quero intervir e fazer com que fique. Se Deus existe ele anda fazendo um servicinho de merda fenomenal.

Não quero ser uma chata-ranzinza-reclamona, mas realmente precisava colocar essa raiva incubada há uns dois meses no meu coraçãozinho fraco. Bom... agora que já botei quase tudo pra fora (mesmo que forma meio impiedosa, sem muito nexo e com frases inacabadas e chinfrins), agora que falei de política e religião, que tal falarmos mal do Corinthians...?

 

Curiosidade


Apesar de não ser o último disco lançado pelos Beatles Abbey Road (1969) foi o último disco gravado pelos Beatles. Let It Be já estava todo gravado faltava só mixar, mas vai saber o porquê, ninguém terminou o disco. Quando Lennon deu a notícia do final do grupo algum brilhantes protudor teve a idéia de ganhar mais dinheiro e por conta própria finalizou e lançou (em 1970). Tempos depois vieram as coletâneas, o "Live At The BBC", os 3 CDs duplos do "Anthology" e Paul mixou Let It Be do seu jeito e lançou a verssão Naked.
Mas o fato curioso é que no último CD gravado pelos Beatles a última faixa é "The End". Ohhhhhhhh!!!!! "Her Majesty" (que tem uns 30 segundos ou menos e está inacabada) foi parar no final do rolo por acidente e eles resolveram deixar, ou seja, se como planejado ela não estivesse lá The End seria o fim mesmo. Mas pode ficar calmo. Isso não é mais uma prova de que o Paul morreu é mera coincidência.

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