terça-feira, março 14, 2006

 

Desinteressante e PS*

"Eu não tenho nada pra dizer
Também não tenho mais o que fazer
Só pra garantir esse refrão
Eu vou enfiar um palavrão
CÚ."
(Ultrage)

Estou profundamente verborrágica hoje. E pra piorar a situação não estou dando conta de dar vazão a esse sentimento que está sendo praticamente vomitado pela minha boca. O sistema caiu, logo não dá pra enfiar a cara no trabalho e esquecer de tudo, até de pensar. Já mandei e-mail pra meio mundo. Tô com muito sono e conforme falo as pálpebras fecham involuntariamente. Quero falar de tudo, de amor, da vida, da revolta, de política, religião, de flores.

Ontem estava super de bode por ter quebrado a cara mais uma vez ao não ouvir minha intuição. Tenho essa mania de não dar ouvido a esse meu sexto sentido, sempre penso que é paranóia da minha cabeça, dou mais um chance e aí um tempo depois quebro a cara porque a pessoa se mostra realmente um cretina. Ontem descobri que uma pessoa é um cretina e fiquei muito desapontada.

No auge da minha desolação com o ser humano, em quem normalmente boto uma puta fé, liguei pro Ô e disse "me agüenta muda e chata?", "Claro, vem pra cá". Lá fui eu. Ele sentou na cama, sem camisa, com a chave de fenda na mão (arrumando o rádio do carro que tinha um botão quebrado). Tão lindo! Aquele ombro de fora - adoro ombros de fora - aquela caixa cheia de ferramentas na frente... muito tudo! Fiquei ali deitada, passando os dedos entre o cabelo dele, sentindo o mundo escapando das minhas mãos e olhando sem foco pra tudo aquilo. Senti um negócio, uma dor muito forte, chorei em silêncio olhando ele ali. Ele olhou de volta, me deu um beijo, fixou lá no fundo meu olho por um tempo e me disse tudo aquilo que precisava ouvir sem proferir uma só palavra.

Esse momento tão único e profundo me animou, fui ajudá-lo com o rádio e ver Lost. No meio desse tumulto com excesso de informação quebramos o botão e como não dava pra prender de volta ele prendeu com fio dental. Desembestei a rir, me senti com 4 anos rindo de uma coisa tão tola. Foi muito bom, rir mandou toda a Nhaca embora, renovou minhas forças, restabeleceu minha fé nessa raça Homo-Sapiens.

Fui pra casa e me afundei na cama e em pensamentos, não conseguia dormir porque minha cabeça estava da mil por hora. Senti saudade da Hal que foi embora. Senti saudade do Gui que está indo embora. Pensei em ir embora também, largar tudo e ir pra Espanha, depois pra Itália... quem sabe Bruxelas. Lembrei do blog da Zee e não queria mais ir embora, nada como o Brasil.

Nessa embarquei em divagar sobre a questão política que levou os Estados Unidos a se tornar daquele jeito, a ser um Estado policial, uma sociedade tão distinta da nossa. Tive medo de um dia o mundo todo se tornar a Babilônia. No fundo toda a América vem das mesmas raízes mas somos tão diferentes. A potência e os pobres, crendo que são livres quando na verdade são escravos, escravos culturais. Pensei na América Latina e em como o Brasil é diferente dos nossos irmãos espano-hablantes. Afinal os vizinhos são países menores e que viveram ditaduras bem mais fudidas que a nossa eles são bem mais conscientizados politicamente, mais ativos e altivos.

Pensando nisso lembrei do Gabriel Gracía Márquez e peguei "100 anos de solidão" na mesa de cabeceira. Mas estava impossível ler. Me entranhei na minha mais recente descoberta: O Gabriel e a Isabel realmente têm coisas muito parecidas. Nunca entendi os comentários de que ela tinha nele uma inspiração e que por isso seus estilos eram bem similares. Tudo que tinha lido deles em nada se parecia, até que peguei 100 anos e vi que o Buendías poderiam facilmente estar no baús encantados do Tio Marcos. Comecei a traçar paralelos entre os livros e me perder em devaneios outra vez quando fiz mais um esforço pra ler.

Li umas 10 páginas viajando totalmente na história, criando coisas na minha mente. Dormi com o livro no colo e quando acordei às 3 da manhã fechei livro, apaguei o abajur e, entorpecida, virei pro lado e dormi. Hoje cedo no Ônibus tive que reler tudo que li ontem na cama. Estou um zumbi.

Só os insones são capazes de entender esse sentimento de cansaço mental por não ter dado trégua pro meu pobre cérebro durante toda um noite e se a noite foi longa o dia será infinitamente pior. Vou indo cuidar da vida, antes que ela me atropele.
*****
PS* - Eu queria que o título do post fosse outro, mas eu não lembrava a porcaria da palavra pra colocar ali. Alguém lembra a palavra que diz que uma pessoa falou, falou, falou e não disse nada? Maíra não vale! Difere de verborrágico porque nesse caso a pessoa fala muito mas pode dizer algo de útil e a palavra que quero já diz que tudo que foi dito é inútil.... Odeio não lembrar das coisas!!!!!!

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