quinta-feira, fevereiro 08, 2007

 

Voltando!

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"Pede perdão
Pela omissão um tanto forçada
Mas não diga nada
Que me viu chorando
E pros da pesada
Diz que vou levando"
Chico Buarque
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Acostumada à minha habitual verborragia desfreada foi um tanto chocante ouvir que eu sou ponderada. Nunca tendo antes sido adjetivada dessa forma, pelo contrário, sempre ouvindo aqueles que faziam mão de seus antônimos mais decadentes, permaneci atônita e estupefata ainda por alguns segundos. Quando os sons dos sinos da iluminação finalmente surgiram ao longe pude me deleitar com o choque da constatação mais profunda de minha curta e breve vida: estou ficando velha.
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Tantos preâmbulos para chegar em algo tão chulo não querem dizer nada senão que a história em si não vem ao caso, a conclusão é o que importa e vem portanto permeada de uma clareza inegável e irrevogável.
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Nunca pensei que pudesse passar desapercebida do incansável e incessante tempo, mas a percepção tardia e no entanto profundamente adiantada dos impactos dele sobre mim me deixou, ainda me deixa, um pouco perplexa. Não pretendo fazer plástica ou botox. Dos efeitos diagnosticados esse é, no momento, o que menos causa distúrbios em minha insone alma. O que me aflige é a constatação do envelhecimento no âmago mais profundo da persona. EGO, ID e Superego. Personalidade. Perfil. Qualquer outro substantivo que te satisfaça.
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Alguns desavisados sublimam a situação substituindo na palavra realidade e alegando ser maturidade. Mas ninguém me convence que a bendita nada mais é do que o eufemismo da supra citada verdade arrasadora.
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Amadurecer é portanto envelhecer que por sua vez nada mais é do que o abandono inconsciente e nada pesaroso dos prazeres impulsivos e incontroláveis da vida substituídos pela comedição típica dos covardes. É o desprezo pelo antigo desprezo às regras, antes contestáveis agora fielmente seguidas e defendidas. Ainda é a expulsão dos arroubos de insanidade temporária que no futuro arrancarão risadas sinceras de um público de amigos nostálgicos.
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Mesmo inconformada eu não fujo ao destino. Serei nostálgica também. Repetirei passos e papos. Ouvirei Elis bradando junto que "...minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos..."
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E no momento mais audaz de minha jornada de amadurecimento me despedirei deixando falsa sabedoria e filosofia domingueira alcoolizada para aqueles que ousarem ler minhas delongas regradamente subversivas.

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