sexta-feira, agosto 04, 2006

 

Apenas mais uma Fã Inveterada no Afã Romântico e Patológico da Chatice

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Todo dia quando levanto da cama agradeço aos pais que tive por me formarem o ser humano lindo, fofo e humilde que sou. Me fizeram comunista, guerrilheira, manequim (ai de mim!) e mais. Refinaram meus sensíveis ouvidinhos para ouvir apenas música, nunca barulho sem sentido. Nada pessoal contra o desgosto musical de ninguém, mas em casa era só Rock, MBP, Eruditas em geral, Samba, Jazz, Blues, enfim MÚSICA! E nesta ciranda, de primavera em primavera, me apaixonei por Beatles.
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Pouco antes de meu pai desencarnar recebi, na aula de inglês, uma grande apostila com as letras dos Deles. Cheguei em casa e corri pra enfermaria que se situava no quarto ao lado do meu pra dividir aquele momento mágico com o cara. Ele me explicou letra por letra, em cada detalhezinho. Lembro muito bem de toda a sutileza que usou ao dizer "A mãe do Paul também era enfermeira - saída das aspas momentaneamente, minha mãe também é enfermeira, volta às aspas - por isso você vê isso aqui em Penny Lane".
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Quando minha irmã ainda não era o pequeno gênio de hoje e pegávamos o busão pra fono fiz questão de lhe ensinar Help!, que ela cantava feliz da vida, sem entender uma palavra do que dizia. Tempinho depois, juntei meus três primeiros salários pra comprar o box dos singles em capas originais. Chorei no Wooly Bully ao som de Yesterday ao ouvir "Feche os olhos. Imagine que estamos em 1965 e que ali no palco são Eles mesmos".
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Morri de inveja de uma gerente canadense da IBM que foi ver um show deles de verdade em Toronto e que teve o desdém de me esnobar com isso. Meu melhor trabalho de faculdade - está no xerox for the generetions to come - foi uma comprovação semiótica de que Paul não morreu. Até hoje quero matar o puto do ladrão que roubou a coleção do Chico e Deles quando assaltou a casa dos meus pais em São Carlos, deixando apenas Abbey Road - Amém! - pra contar história. Chorei quando a Linda morreu pro solidariedade ao Paul. Chorei outra vez quando a Mari me trouxe o meu chaveiro de Londres.
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Até hoje não tenho a discografia completa. Compro apenas um CD Deles por ano, pra que todo ano eu ainda tenha um novo pra comprar, fingindo pra mim mesma que ele acabou de ser lançado. E quando terminarem os CDs vou comprar os filmes, os vinis, os singles em vinil, as fotos, a lasca da xícara do jogo de porcelana chinesa que criou um embrião prematuro no coração de Paul pra compor would you care for a couple of english tea.
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Pra cada lágrima que derramei, na segurança de meus lençóis, Eles estavam lá. Pra cada riso, Eles criaram uma nova dimensão. Pra cada coisa que senti achei que cada um Deles me entendeu e fez aquela canção só pra mim. As músicas que me fazem sentir de um jeito especial e para as quais poderia ficar dias aqui recitando o que sinto ao ouvir cada clavezinha de sol ou cada pulada de oitava do Paul.
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E no dia em que, pra alegria de minhas avós, mesmo que numa cerimônia na arei da praia, com um anel da feirinha, eu finalmente deixar o time das solteiras, daqui uns 20 anos, será ao som de In My Life. Cause in My life I´ve loved Them more.
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