quinta-feira, março 09, 2006

 

Mulher! Ó, Mulher!


Ontem pleno dia da mulheres e eu de TPM, na pior representação feminina que já houve: histérica, chorona, louca e transfigurada. Vivi o dia da mulherzinha...

Sou meio contra esse lance de dia da mulher, do índio, da consciência negra. Acredito que a única razão da existência desses dias é a hipocrisia dos que estão no poder de tentar camuflar maiorias numéricas que eles consideram minorias, mascarar o preconceito.

Se Deus, Alá, Buda, Zeus, Yemanjá e mais todos os outros deuses nos vêem como iguais porque então nós mesmos não somos capazes disso? Se existe o dia da mulher é porque várias delas morreram na fábrica, se existe o dia do índio é porque eles foram mortos e catequizados, se existe o dia da consciência negra é porque eles foram escravos.

Seria muito legal se esses dias representassem o passado e existissem como forma de nos fazer lembrar de como nossos erros nos faziam piores e que agora tudo é diferente e devemos lutar todo dia pra nos manter assim. Seria mais legal ainda se esses dias fossem um forma de valorizar a força, a garra, a luta, a dor, a beleza, o amor, a sutileza de seus donos. Mas não é bem assim que as coisas acontecem.

Verdade seja dita ainda tem muita gente que é preconceituosa. Criar um dia é uma forma de calar a boca dos que sofrem o preconceito diário, como se no dia das mulheres, do índio ou da consciência negra nós devêssemos nos orgulhar de ser o que somos. Temos que nos orgulhar disso todo dia do nascer ao pôr do sol. Temos que ter consciência da igualdade humana que nos une sempre.

E quando eu falo em igualdade eu não falo de tratar todos de forma uniforme e massificante. Somos igualmente humanos, diferentemente indivíduos. Cada um de nós tem necessidades únicas e especiais que devem ser tratadas com respeito, amor, dignidade e compaixão.

Um exemplo bem simples e bem forte disso é o exame do pezinho (acho que falei disso já, mas aqui vai outra vez!). O exame do pezinho, feito em todo recém nascido na maternidade, serve para diagnosticar uma doença comum em bebês brancos. Crianças negras raramente são afetadas por essa doença, mas mesmo assim passam pelo teste. Os negros comumente são atingidos por um doença chamada anemia falsiforme (os seus glóbulos sei lá quais têm forma de uma foice e não de uma bolinha e isso prejudica o sistema imunológico para o resto esto da vida), no entanto nenhum bebê negro faz um teste para essa doença. Quer saber o melhor? O teste da anemia falsiforme é infinitamente mais barato que o teste do pezinho.

Não consigo entender o porquê de tamanho absurdo, tamanho privilégio, tamanha ignorância. Não me conformo de ter que viver nessa sociedade hipócrita, enclausurada e falsa. Preconceito velado é o pior, por ser o mais difícil de brigar, de combater e de extinguir.

Divagações sócio-politico-filosóficas a parte meu Dia da Mulher de mulherzinha de ontem foi o pior de todos os tempos. Com o pé ainda inchado das picadas do borrachuros eu fui picada por uma formiga. No hospital pra tentar desinchar meu pé dolorido, gordo, coçando, formigando e quase sem pressão sanguínea deixei a TMP vir a tona e chorei feito um louca histérica. De volta pra casa chapada de remédio tive uma cólica cruel que não me deixou dormir, sem poder tomar analgésico por causa do anti-estamínico e do anti-inflamatório. Se ontem foi meu dia eu não quero saber como será o resto do ano...

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