Hora do Culto

Àqueles que consideram o BBB como um aquário experimentalista humano deixo meu pedido de desculpas pela desaforada campanha contra os big irmãos, contudo - mesmo como aquário - o funcionalismo brutal imposto pela casa e a lavagem cerebral em alta escala num população intelectualmente pobre me ofende demais para manter-me calada.

Nenhum dos ardorosos fans do shows de horrores baseado em realidade deve ter lido 1984, porque se o tivessem feito estariam tristes ao constatar que um futuro terrível nos aguarda quando amamos o ícone máxmo daquilo que deveríamso temer e para o quel nos guiamos cegamente a cada dia. Um futuro sem liberdades individuais, sem escolhas, sem amor, sem vida. Um futuro em que tudo o que faremos será amar o grande irmão.

Um amor que representará tudo o que nossa sociedade condena da boca pra fora e faz da porta pra dentro. Que mostrará que a corrupção e a necessidade doentia pelo controle e pela alienação são inerentes aos fracos humanos, bem como a fofoca, a o desejo pelo proibido, a incapacidade de ser catártico e a necessidade de precisar extravasar na catarse do outro, o fetiche de assistir à banalidade e à intriga, o voyerismo sem censura.

Saia da frente da TV e dê uma volta com o cachorro, brinque com o gato, troque a fralda do filho, ligue pra sua avó, frite bolinhos de chuva, vá ao teatro, alugue um filme, vá ao cinema, procrie, sei lá... mas faça alguma coisa. Mas faça com que essa alguma coisa não seja assistir boquiabertamente pasmo as provas continuas e ininterruptas da burrice alheia.

Não consigo ver o que aquele programa acrescenta na vida de ninguém além de 5 minutos de conversa fútil no elevador, seria melhor voltarmos ao clássico "É... acho que vai chover..." do que obrigarmos outras pessoas a verem a desgraça apenas para terem papo.

Sei que ofendi a muitos. Acontece! Ninguém é unânime. Mas não vou me desculpar por isso, assim como ninguém me perdoa por eu não ser capaz de participar do papo na mesa do almoço por não saber o que o Homem de Marlboro fez na semana passada.

Mas já que todos deixamos nossas opiniões bem claras, eu te respeito, você me respeita e voltamos à chuva, ao tempo, ao almoço. Bom apetite.